sábado, 22 de outubro de 2011


O custo Brasil ataca o campo


Ele tira vantagem até de onde o país era campeão em competitividade: o agronegócio deixou de ter o custo mais barato de produção em algumas culturas


Colheitadeira em plantação de soja




São Paulo - O paranaense Ricardo Tomczyk, de 35 anos, é um dos 5 000 produtores de soja de Mato Grosso. Todo ano, após a colheita da safra, ele depara com um problema logístico para escoar a produção. Os grãos produzidos por Tomczyk percorrem 1 200 quilômetros de sua fazenda em Rondonópolis, no sudeste do estado, até chegar ao porto de Santos. Nos Estados Unidos, o principal competidor do Brasil no mercado de soja, a mesma carga viaja em média 150 quilômetros para ser embarcada. Não bastasse a distância mais curta, o meio usado é a ferrovia.                      
No setor de cana-de-açúcar, a elevação do custo de produção achatou a margem de lucro dos produtores nos últimos três anos. De 2005 a 2010, os custos para colher 1 tonelada de cana aumentaram 44% em dólares. Isso gerou problemas em série. Com rentabilidade menor, os plantadores deixaram de investir na renovação das mudas.
Franco calcula que serão necessários investimentos de 10 bilhões de reais para ocupar 2 milhões de hectares com novas mudas e revigorar o setor canavieiro. Por ora, não há sinal de retomada dos projetos.
No mercado externo, a queda da competitividade já causa recuo. Recentemente, o Brasil perdeu uma posição que havia conquistado em 2003: a liderança na exportação mundial de carne bovina. Com preço inferior e agressividade comercial, os americanos assumiram a ponta em julho deste ano.
Vantagem anulada
Abriram mercados que ficaram fechados por anos para eles devido a um surto de doença da vaca louca. O Brasil ainda não consegue convencer mercados como o do Japão de que tem um sistema sanitário seguro. E o custo de produção aqui não ajuda: subiu 60% acima da inflação desde o início do real.
Com isso, o ganho líquido, que era de 40% por arroba de boi na década de 70, caiu para 17% neste ano. A escalada dos fatores que compõem o custo Brasil aumentou a velocidade de queda nos últimos anos. “O custo está chegando perto do preço”, diz Maurício Nogueira, da consultoria Bigma.
Nesse quadro, vantagens naturais são quase anuladas. As florestas plantadas para a produção de celulose aqui, graças ao clima, crescem mais depressa do que nos países concorrentes. O solo permite o plantio de 80% mais árvores numa mesma área. Mas os custos crescentes de logística e a carga de impostos vêm tirando a vantagem brasileira sobre o produto similar americano.
O custo de produção da celulose no Brasil já foi 29% menor do que nos Estados Unidos. Em três anos, os americanos praticamente igualaram o jogo. Uma vantagem que o produtor brasileiro mantém é o baixo preço da terra. Mas é uma condição com os dias contados.
“A valorização da terra é um processo sem volta”, diz Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja. Mesmo em condição de igualdade crescente, o agronegócio brasileiro tem tudo para continuar a ser competitivo — desde que a praga do custo Brasil seja atacada com rapidez.

FONTE: Exame Online

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